Atualidade - O Metrô mais caro do mundo e a cortina de fumaça

domingo, 13 de fevereiro de 2011 Marcadores:




O blogueiro Paulo Caval-canti, que mora na Zona Leste de São Paulo e é usuário de Metrô, publicou um interessante artigo em seu blog, questionando o aumento do valor da tarifa de Metrô em São Paulo e comparando a qualidade deste transporte ao serviço oferecido em outras me-trópoles do mundo. O texto foi publicado origi-nalmente no Blog do Paulinho.

Hoje, os paulistanos estão sendo brindados com a notícia de aumento dos trens do Metrô, um reajuste de 9,43%, que o tucano Geraldo Alckmin (PSDB), anunciou ontem [8/2], passará a vigorar a partir de domingo, dia 13. Desnecessário dizer que o aumento é superior ao índice de inflação acumulado durante o ano indexados ao Índices de Preços ao Consumidor (IPCA) que foi de 6%.

Paulo Cavalcanti

Não precisa ser economista formado pela Faculdade de Economia da USP para chegar a uma conclusão óbvia sobre o “xoque de jestão” tucano – que sempre empurra a vara além daquilo que ela já é – ou seja, aplicar um aumento de 9,43%, quando o índice correto seria 6%, trata-se de estelionato administrativo, uma vez que estão aplicando 3,43% acima da inflação do período.

Este blogueiro, especialista em nada, fez as continhas básicas e chegou à conclusão de que Alckmin e sua trupe omitem da população que, na verdade, não aplicaram só 3,43% acima da inflação, e sim 57,17% a mais do que aquilo que deveriam aplicar. Isso é um jogo de números, pura cortina de fumaça.

Vamos “desfolclorizar” a matemática “deles” com anuência da imprensa – velha amiga de sempre que não tem o menor interesse em “analisar” o falsete que aplicam. Observem:

Se o índice correto a ser aplicado é de 6%, você pega a diferença daquilo que “eles” aplicaram (3,43%) para fechar os 9,43% e aplica em forma de percentual sobre 6%. O resultado é o valor que eles jogaram além da inflação: 57,17% a mais (que foram os 3,43%).

Aí vem a cortina de fumaça. Com conivência da imprensa, então, “eles” declaram:

“Apesar do reajuste, a passagem do Metrô seguirá mais barata que a dos ônibus municipais, cuja alta de R$2,70 para R$3,00 foi dada pelo prefeito Gilberto Kassab (DEM) em janeiro –11,11%, também acima da inflação.”

Perceberam o joguete que sempre fazem em parceria, no velho estilo, um levanta a bola, outro chuta? Agora Kassab é desafeto deles, então vale a comparação (hoje) oportunista, pois dormiram na mesma cama até ontem.

A Folha de S.Paulo de hoje, sem citar nomes, no velho estilo do bom jornalismo tucano, escreve: “integrantes” da gestão Alckmin ouvidos pela Folha citaram dois fatores para a decisão do reajuste da tarifa do Metrô acima da inflação. Porém, eles citam três (talvez seja distração do jornalista):

1) De ordem técnica, é a preocupação de, abaixo de R$2,90, superlotar mais a rede metroviária devido à diferença do preço dos ônibus.

2) A demanda na Linha 3-Vermelha (Leste/Oeste) já é suficiente para carregar 10,9 passageiros por m2, contra um índice de desconforto recomendado de até 6 por m2.

3) Outro fato, de ordem política, é que um índice maior neste começo de mandato pode levar ao reajuste menor no próximo ano de eleições.

Atenção para a justificativa de outro aumento em breve:

Aos leitores e usuários dos trens do Metrô, faço aqui uma alerta, que irá redundar em um aumento de tarifa num futuro bem próximo. Já observaram umas caixinhas amarelas esparramadas entre os trilhos nos trechos de estações? Aquilo se trata de uma “novidade”, que é a implementação de uma nova sinalização.

O Metrô hoje trabalha com um padrão de sinalização ATO, ou seja funciona em automático, com blocos de trens de 150 metros de distância uns dos outros. Com aquelas caixinhas, estarão implantando o sistema CBTC, que trabalhará com intervalos de 15 metros entre os trens, o que, segundo eles, provocará um ganho de 25% a mais de trens nos horários de pico, reduzindo assim a lotação. Uma vez implantando, lá vem aumento novamente, podem escrever aí.

Agora vamos comparar os Metrôs?
– Metrô de Londres tem 415 km de trilhos para atender uma população de 19,8 milhões de habitantes com 11 linhas, 270 estações, transportando 2,95 milhões de passageiros/dia e com a média de 7.108 passageiros por km;

– Metrô de Nova Iorque tem 398 km de trilhos para atender uma população de 30,4 milhões de habitantes com 26 linhas, 468 estações, transportando 5,6 milhões de passageiros/dia e com a média de 14.070 passageiros por km;

– Metrô de Madri tem 283 km de trilhos para atender uma população de 8,1 milhões de habitantes com 12 linhas e 293 estações, transportando 2,5 milhões de passageiros/dia e com a média de 8.809 passageiros por km;

– Metrô de Tóquio tem 195,1 km de trilhos para atender uma população de 44,8 milhões de habitantes com 9 linhas e 179 estações, transportando 6,2 milhões de passageiros/dia e com a média de 31.794 passageiros por km;

– Metrô de Paris tem 211 km de trilhos para atender uma população de 13,3 milhões de habitantes com 16 linhas e 380 estações, transportando 4 milhões de passageiros/dia e com a média de 19.126 passageiros por km;

– Metrô de São Paulo tem 61 km de trilhos para atender uma população de 30,8milhões de habitantes com 4 linhas e 55 estações, transportando 3,7 milhões de passageiros/dia e com a média de 60.655 passageiros por km.

Conclusão
Quando o PSDB assumiu o governo de São Paulo, em 1995, a rede metroviária tinha 43,4 quilômetros de extensão. Atualmente, tem 62,3 quilômetros. Nesses 15 anos, o Metrô avançou apenas 18,9 quilômetros – o que indica um crescimento de apenas 1,26 km ao ano.

Entre as grandes capitais do mundo, a rede paulistana só é maior que a de Buenos Aires, mas transporta quatro vezes mais passageiros por quilômetro instalado. E aí pode-se observar que o Metrô de São Paulo é o mais lotado do mundo, chegando a transportar até dez passageiros por metro quadrado, quando o “aceitável” são quatro passageiros e o “tolerável”, seis.

Quando forem inauguradas, sabe Deus quando, a Linha 4-Amarela e o prolongamento da Linha 2-Verde, a rede paulistana contará com 78 quilômetros, o que dará um crescimento médio de 2,3 quilômetros ao ano até 2010, a contar de 1995. Se mantida essa média, para o Metrô de São Paulo chegar a 200 quilômetros de trilhos levará mais 60 anos, ou seja, só em 2070.

Observem o absurdo, pois enquanto o Metrô de Nova Iorque custa 50 centavos de dólar e, em Buenos Aires, 36 centavos de dólar, nosso Metrô custa 2 dólares.

Fontes: Transport for London, Metropolitan Transportation Authority, Metro de Madrid, Tokyo Metro, RATP, IBGE, INSEEE, Word City Population – OMS

Paulo Cavalcanti é morador na Zona Leste de São Paulo.

Via Vermelho.

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